Voltar de onde quer que seja é gratificante. É quando se nota, de verdade, o quanto se descansou. Nessa hora, especificamente, o agradecimento à vida pelas distrações, pelos caminhos 'por antes nunca dantes navegados', pelos rostos que foram conhecidos e de forma repentina sumiram no embalo da noite escura ou das maratonas da vida, pela quebra das ondas na pedra, pela beleza do mar.
Voltar é bom, porque o caminho que se percorreu foi proporcional ao que não se percorreu, ou seja, nunca se faz tudo que se gostaria, nunca é o suficiente para nada, em tudo falta um pouco.
Voltar é a alegria de reencontar a casa materna, a cama alinhada com lençoes perfumados, o quintal recheado de folhas de mangueira esparramadas pelo chão duro de uma terra em que não chove há tempos! É perceber a gata miando conhecendo a voz de sua dona!
Voltar é reencontar a família canina alvoroçada, feliz, latindo, pulando, fazendo cócegas na perna da gente.
Voltar é enfrentar a batalha diária em que se trava uma luta com um ou mais leões por dia e sair recompensanda ao cair da noite pelo que se fez e pela vitória interior contra as ciladas do inimigo.
Voltar é encontrar-se consigo mesma e chegar à conclusão de que a vida fora de casa é boa, mas nada como a casa da gente para dizer: é minha! Fincar o pé debaixo do chuveiro e deixar cair a água amiga e benfazeja de todas as horas.
Voltar é perceber a alma lavada e o corpo cansado da rotina que ficou para trás, ao partir e bendizer a graça da saúde, da amizade, do amor e da generosidade.
Voltar é resgatar a natureza íntima que ri ao se lembrar dos prazeres de uma vida que em algum tempo se pensou que fosse nossa!