quarta-feira, 6 de junho de 2012

Memória afetiva II


Uma vez fomos de trem para Oliveira. Diziam que Nossa Senhora estava estampada na cabeceira de uma cama. Fomos nós lá ver o acontecido e vimos!!! Não sei se é sugestão. Tenho gravada na mente a sombra da imagem de NS. Meu irmão devia ter uns quatro anos e eu uns nove, viajávamos sempre Antônio Marcos e eu com meus pais, os outros irmãos eram crescidos.Ficamos na cidade o dia inteiro e não me lembro do que fizemos, mas voltamos muito tarde de trem. Era tão tarde que nós, duas crianças, dormimos no assento do trem e papai, então, pediu ao chefe dos maquinistas que nos pusesse no vagão-dormitório. Viemos dormindo boa parte do tempo de Oliveira até aqui. Foi uma glória dormir num vagão tão chic! Lembranças de uma infãncia feliz!

Minha tia Sylvia contava-nos, cheia de orgulho que seu pai, nosso avô, Pedro Theodoro de Souza é que planejou todo o trilho que ligava Lavras a Barra Mansa. Meu avô morou muito tempo em Ribeirão Vermelho e ali era muito influente. Quando desenhou essa *trilhagem*, ou seja, a linha de trem que liga Lavras a Barra Mansa, o engenheiro formado veio depois e apenas assinou o projeto que estava corretíssimo. 

Meu avô foi casado em primeiras núpcias com Adélia Rocha de Souza que faleceu aos 36 anos proveniente de parto. Naquela época não se fazia cezariana. Minha mãe Geraldina contava que enquanto velada no ventre de sua mãe o bebê ainda se mexia. Depois, em segundas núpcias, casou-se com Ana Augusta de Souza. Do primeiro casamento nasceram, além de filhos que morreram, um irmãozinho com quatro anos, provavelmente de tifo e Luite, mais velha que não sobreviveu à famosa gripe espanhola, minha mãe Geraldina e minha tia Sylvia; do segundo, Pedro Theodoro de Souza e Aline. Todos conviviam como se irmãos de sangue *inteiro* fossem, não havia desavença entre eles e nós fomos criados com nossos primos como irmãos. Linda e afetuosa família essa da qual faço parte. Um privilégio, pra mim, ter nascido neste berço.

Minha mãe sempre foi a mais enérgica, mas era dona de um coração muito grande. Era, também, muito fervorosa, lutou bravamente, junto a meu pai para criar a família numerosa! Um exemplo de vida a ser seguido e reverenciado. 

No momento, os filhos todos , ou melhor, a grande família se prepara para o  grande encontro que se realizará em julho. É a grande festa da família, ocasião em que todos se reúnem e, como a família sempre cresce, é a oportunidade de uns e outros se conhecerem. É a grande bênção que Deus nos reserva. É a época da colheita, embora os *agricultores* não estejam presentes, mas eternos em nossa vida.

Memória afetiva I



Hoje meu dia foi nostálgico. Lembrei-me tanto de papai! Não gosto quando a saudade toma conta, é tristeza na certa. Não venha me dizer que se é saudade boa não dói, porque toda saudade é dolorida, toda lembrança traz sequela e de onde a gente volta não voltamos os mesmos. Um pedaço de nós fica lá longe onde estivemos para matar essa saudade de alguém que nos deixou e sua ausência é *para sempre!*

Meu pai foi um homem apaixonado pelo que fazia. Transmitiu essa paixão pelo trabalho aos filhos, excelentes profissionais. Aposentou-se como *gerente*, era assim que se falava, do antigo armazém da RMV. Nesse armazém vendia-se de quase tudo. Lembro-me de que ele trazia roupas de cama, mesa, banho, mantimentos e, ainda, cultivava uma colmeia atrás do armazém e, de vez em quando, trazia-nos o favo ou o mel. Lembro-me até hoje do sabor, assim como também fazemos uso de mel em nossa mesa.

Papai subia de bonde para nossa casa e descia a pé. Levava-nos, muitas vezes, a passear pela cidade. E os trens? Minha avó morava em Ribeirão Vermelho e todos os domingos, pegávamos um deles (não sei se a *Bitolinha* ou *Maria Fumaça*), descíamos na estação de RV e íamos almoçar com nossa avó Mercedes. Sempre meus pais, meu irmão Marcos Possato e eu. Ela morreu no dia 20/07, dia do aniversário da cidade e não pudemos ir ao baile. Só não me lembro do ano...

Meu irmão mais velho, José Roberto, herdou sua paixão pelos trens. Em sua casa há uma foto de uma máquina famosa e a cada vez que escutava o barulho de um deles passando nos trilhos perto de onde moramos, saía à porta ou ia nos fundos da horta para vê-los. São muitos os casos, muitas as histórias, espaço pequeno. Aqui também não é lugar para escrita longa, é que me deu uma *nostalgia*, talvez o dia nublado, sozinha em casa e o Dario me cutucando pra escrever algo. Dario, meu velho e carinhoso amigo a quem muito amo. Nosso eterno vizinho. E a vida continua com seus trilhos sinuosos, ora retos, sempre em direção a algo mais profundo e sincero! Nossa verdade!