sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Mudanças

Depois que resolvemos, minha irmã e eu, ajeitar nossa mais que antiga casa, começamos, também, uma faxina. Todos os móveis foram retirados de dentro da casa e, como temos um cômodo fora, 'arrumadinho', ficamos hospedadas nele por algum tempo. Enquanto isso, caixas e mais caixas, principalmente, de livros, objetos de parede, roupas, sapatos e, tudo que se possa imaginar, foi revirado e selecionado. Muita gente ficou satisfeita, porque as doações foram muitas. E nosso alívio foi grande!

Os livros? Ah, os livros! Os de mais valor, os bem garimpados ficaram; outros que poderiam servir a professores, escolas, embora tenha oferecido até demais, foram os mais preteridos...fiquei assustada, pois, escolas se recusaram a aceitar...acabei doando ao centro universitário em que estudei, mesmo que não precisasse tanto. Por que doei? Minha atuação como professora chegou ao fim, hoje trabalho como revisora, em virtude de um câncer na zona proximal do úmero e, por isso, tenho uma prótese no ombro direito. Tenho limitações, porém, nada me impede de exercer qualquer atividade no computador e, assim, aproveito meu tempo com habilidade e prazer.

Com essa faxina, no entanto, revivi um tempo que não volta. O tempo em que minha família era completa, com meus pais vivos, meus irmãos solteiros e as preocupações nem faziam parte de meu cotidiano. Encontramos 'retratos' de antigamente, cartas, cartões, enfeites, mensagens, receitas, jornais, revistas, tudo guardado e, ao mesmo tempo, espalhado por inúmeras caixas, gavetas, armários...Quanta vida! Quanto sabor de saudade! Quanta lembrança e quanta lágrima, porque a emoção é minha companheira constante e contínua. Tempo bom, tempo feliz...

Hoje nossa casa está mais vazia, mais clara. Muito do que encontramos devolvemos a quem de direito quando de nosso encontro anual de família. Fizemos, também, muitas doações, sem arrependimentos, culpas e sabemos que em nosso coração e mente estão em morada eterna os que amamos e as lembranças que nos deixaram. Nossa herança é forte e nada poderá apagar de nossa memória os momentos vividos nessa casa de copa com mesa oval, com mármore branco, rodeada de cadeiras. De sala com sofás pequenos, muitas almofadas, uma cadeira de balanço, móveis antigos ornados com alguma novidade. Gostamos de misturar. A cozinha é o lugar preferido em que o pão de queijo é servido bem quentinho e a broa de fubá recheada com queijo que se derrete ao degustá-la. Quartos pequenos, acolhedores e um quintal...

E muita prosa fiada...Que delícia!

Esse quintal mais se parece uma chácara de tão grande e com tantas árvores frutíferas. Loga na saída da varanda se dá de cara a parreira, em girau de bambus, que nos oferece uma sombra agradável em dias de sol forte. Caminhando, encontramos mangueiras, laranjeiras, limoeiros, jabuticabeira, bananeiras, frutas-de-conde, camélias, roseiras, lírios, antúrios, margaridas, orquídeas; Manu, nossa jabuti e Paulo Zulu, nosso labrador chocolate.

Tudo tem seu tempo certo. De colher, de plantar, de sorrir, de chorar...Demoramos a tomar essa decisão de mudar e mexer na casa toda. Sempre vivemos nela, aqui enterramos nossos mortos, recebemos a família, parentes e amigos. Nunca é tarde para mudanças. Percebemos, entretanto, que depois que aconteceram ficamos e vivemos num ambiente muito melhor.

Dizem que é bom faxinar, renova as energias. Começo a acreditar!




Um comentário:

  1. Os livros!!!
    Eu lembro que sempre adorava ir em Lavras para pegar algum livro seu emprestado. Era tão legal subir aquela escadinha e chegar num quarto cheio de livros. Parece que a sala era enooooorme e os livros, infinitos.
    É, eu ainda tenho uma grande paixão por eles.
    Espero que esteja tudo bem por aí!
    Beijos

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