quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Afago dos sons

A música faz parte de mim. Lembro-me de tê-la sempre por perto em todas as fases de minha vida. Para cada momento vivido uma em especial. Quando era pequena, aprendi a cantar músicas relacionadas a historinhas infantis as quais cantei para meus sobrinhos, naturalmente, contando as histórias e até hoje para meus sobrinhos-netos, juntamente, com as canções das quais me recordo.

Na juventude quantas marcaram meus namoros, uma especificamente, recordo-me bem,”Primavera”, interpretada, brilhantemente, por Tim Maia.

Quando entrei para valer na escola primária, estudei na cartilha de Lili. Os cartazes eram grandes, achava as ilustrações lindas e a professora, D. Marta Bini, baixinha, loirinha, brava! foi nossa alfabetizadora. Chamava-me de ‘descabelada’, porque como brincava muito no recreio, voltava suada para a sala de aula e meu cabelo comprido e liso não parava no lugar. Nada o prendia, até hoje tenho o couro cabeludo dolorido e não consigo prendê-lo com uma só ramona!

A cartilha de Lili era linda. A menina era muito prendada, tocava piano, cantava e havia uma música para ela: Eu vivo a vida cantando/ai Lili, ai Lili, ailô/ por isso alegre contente estou/com o que passou, passou/ o mundo gira depressa, e nessas voltas eu vou/ cantando a canção tão feliz, que diz/ ai Lili, ai Lili ailô/ ...(mais ou menos assim). Na realidade mais me parece uma cantiga folclórica, a nossa memória altera nossa visão do passado...

Quando entrei na Faculdade, saíamos pela rua contentes cantando músicas portuguesas. A dançar e a cantar pelas ruas. Que tempinho bom, sem preconceito, sem neuras, fobias, malícia...Éramos tão felizes..quantos de nós sobreviveram? Alguns, infelizmente, sucumbiram às doenças, impossibilitados de lutar contra elas.

Na idade adulta, resolvi aprender a tocar violão. Tia Sylvia, como sempre dadivosa, deu-me o bem precioso o qual guardo até hoje e sem saber a quem doá-lo, porque ainda não percebi alguém com vontade suficiente para tocá-lo.

Meus dedos já não eram tão flexíveis e tive dificuldade e, também, como dizia meu professor, José Maria, não treinava. Ele vinha em minha casa, tocava e eu cantava. Quer dizer que eu gostava mesmo era de cantar. Sou afinada ainda.

Fui parar num coral. Mezzo soprano. Nessa época minha professora Norma chamou-me para umas aulas de canto e foi como se jogasse o peixe n’água. Foi um período gostoso e ela achava minha voz lindíssima. Como são os professores. Somos assim mesmo, os alunos é que não acreditam em si mesmos e em nós. Pena!

Hoje não posso mais tocar violão, só ouço muita música, canto pouco, meu espírito nem sempre me dá tempo, deixei o coral, continuo cantando para meus sobrinhos e pelo menos eles me aplaudem, acham lindo e vou dormir com eles muito feliz!

A música afaga meu coração, entristece-me a vida, se há algum descontentamento, alegra-me e inspira-me sempre, sempre e me leva a fazer as pazes com a vida. Minha caminhada é recheada de sons, ruídos, latidos, miados, gorjeio de pássaros, passinhos de jabutis, zunido do vento nas árvores, zumbido de abelhas e muito mais.

Ai de mim sem meus ouvidos para escutar. Pena de Bethoven que passou quase toda a vida sem ouvir e, ainda assim, compôs a maravilhosa Sonata ao Luar!




2 comentários:

  1. Você voltou!!!! Que alegria poder desfrutar novamente de palavras lindas. Você voltou com sua mente Maravilhosa para nos proporcionar uma ida até seu mundo, sua vida que você tão bem descreve tão bem. Leio e entro no mundo que você viveu,que você ainda vive é maravilhoso!
    Obrigada Amiga, Sempre e para Sempre Muito Especial!
    bjo grande em seu coração.
    Mara

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  2. Talvez isso explique sua capacidade de verter em letras, de forma tão sublime, o som do coração.

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Obrigada
:)*