sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sobre perdas

Quando um de nós se vai, é difícil no princípio nos acostumar com a idéia de "nunca mais". Com as diversas perdas que tive em minha vida, não apenas de pessoas, mas também por outra razão, não vou dizer que aprendi, porém continuo na caminhada e experimentando novas posturas frente à vida. Não se pode parar. As pessoas próximas e mesmo amigas nos exigem fortaleza, outros aconselham curtir o luto. Há, ainda, aqueles que reagem de forma natural. A esses invejo pela aceitação, pois sabem que nada mudará curtindo sofrimento! Cada qual tem sua forma de vivenciar a morte, seja de uma pessoa querida, de um animal companheiro, a perda de um emprego, de uma viagem, o término de um casamento, namoro, seja lá o que for.
Sou uma pessoa muito emotiva. Choro quando tenho vontade, em minha casa, na de amigos, na rua. Não me envorgonho de minha sensibilidade aflorada à flor da pele. Entrego-me à emoção como uma forma de alívio e sinto-me realmente leve quando deixo minha alma transbordar sentimentos que ela quer derramar. Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo o dia,(José Saramago).
Quando perdi meu pai (foi o primeiro), era meu protetor, fiquei atordoada por muitos anos. Era a primeira perda muito próxima. Na hora de minha mãe, quatorze anos depois, o sentimento foi mais dolorido, pois naquele momento percebi que perdia os dois, pai e mãe. Foi uma tristeza que não passou. Era uma pessoa contagiante, inteligentíssima, espirituosa, cômica bastante vezes e, também, dinâmica e uma lutadora!. Foi uma mãe extremosa, de pouco carinho explícito, porém cuidadosa e, juntamente com meu pai, ajudados pela tia Sylvia, criou seus sete filhos. Cada um seguiu seu rumo e hoje nos orgulhamos ao falar deles. A vida continuou. É preciso saber viver, disse Roberto Carlos, mas ele mesmo enfrentou várias batalhas como todos nós. E a gente vai levando, como canta Bethânia.
Minha tia-mãe, Sylvia, faleceu ano passado, 2008. Ela me amava e eu a ela. Até hoje sinto muito sua falta, de suas conversas inteligentes, de sábios conselhos, era brilhante na oratória e na escrita. Neste ano perdi outra tia, Aline, a última da família de minha mãe. Talvez eu seja piegas demais, talvez seja sentimental e muita gente já me achou “nervosa”. Que julgamento! Quem perdeu pessoas importantes na vida sabe que não é fácil..o barco se vai e a nossa caminhada tem que continuar...a morte é nossa companheira inseparável..caminha junto com a vida. Se a gente não sabe viver direito, muito menos aceitar a morte, que é muito mais penosa...
Adélia Prado tem um verso em um de seus poemas. ”Aquilo que a memória amou fica eterno”..É a pura verdade...enquanto houver gente que se lembre das pessoas queridas que partiram, elas nunca morrerão definitivamente, serão sempre lembradas e amadas pelos seus exemplos e feitos. De seu íntimo cada um sabe e não será feliz aquele que não souber deixar partir os mortos e viver a vida, um dom maravilhoso que recebemos. É preciso degustá-la com sabedoria.
Drummond retrata brilhante e lindamente o que tentei dizer acima: Amar o perdido/deixa confundido/este coração. Nada pode o ouvido/contra o sem sentido/ apelo do Não. As coisas tangíveis/tornam-se insensíveis/ à palma da mão. Mas as coisas findas/muito mais que lindas/ essas ficarão. (Memória)

2 comentários:

  1. È menina!!!!
    O que dizer diante de tanta poesia em forma de depoimento???? a não ser parabenizá-la pela maneira que tão bem e lindamente soube expressar a vida de nossos pais e tias tão íntimos!!!!
    Continue nessa sua caminhada , porque , com certeza, irá longe!!!!
    Besitos irmãzita!!!!

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  2. Amiga, como te admiro, você brinca lindamente com as palavras. Expressou profundamente sua dor,com sabedoria imensa. Sempre soube que saberia escrever tão bem. Parabéns!!!
    bjs

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